quarta-feira, 17 de novembro de 2010
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Vai saber?
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Fases do luto
domingo, 8 de agosto de 2010
Tempo de amor
Ah, bem melhor seria
Poder viver em paz
Sem ter que sofrer
Sem ter que chorar
Sem ter que querer
Sem ter que se dar
Mas tem que sofrer
Mas tem que chorar
Mas tem que querer
Pra poder amar
Ah, mundo enganador
Paz não quer mais dizer amor
Ah, não existe coisa mais triste que ter paz
E se arrepender, e se conformar
E se proteger de um amor a mais
O tempo de amor
É tempo de dor
O tempo de paz
Não faz nem desfaz
Ah, que não seja meu
O mundo onde o amor morreu
Composição: Vinicius de Moraes / Baden Powell
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Contemplo como o igual dos próprios deuses
esse homem que sentado à tua frente
escuta assim de perto quando falas
com tal doçura,
e ris cheia de graça. Mal te vejo
o coração se agita no meu peito,
do fundo da garganta já não sai
a minha voz,
a língua como que se parte, corre
um tênue fogo sob a minha pele,
os olhos deixam de enxergar, os meus
ouvidos zumbem,
e banho-me de suor, e tremo toda,
e logo fico verde como as ervas,
e pouco falta para que eu não morra
Uns Versos
Sou sua noite, sou seu quarto
Se você quiser dormir
Eu me despeço
Eu em pedaços
Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo
Sou seu fado, sou seu bardo
Se você quiser ouvir
O seu eunuco, o seu soprano
Um seu arauto
Eu sou o sol da sua noite em claro,
Um rádio
Eu sou pelo avesso sua pele
O seu casaco
Se você vai sair
O seu asfalto
Se você vai sair
Eu chovo
Sobre o seu cabelo pelo seu itinerário
Sou eu o seu paradeiro
Em uns versos que eu escrevo
Depois rasgo
Adriana Cacanhotto
terça-feira, 27 de julho de 2010
Eu espero
segunda-feira, 26 de julho de 2010
A confábula do fim
A dois minutos do último segundo um homem completamente bêbado acordou de seu sono profundo numa calçada da avenida olegário maciel e descobriu que não sabia mais quem era e sequer de onde viera;
A dois minutos do último segundo um casal de jovens apaixonados pulou do alto do edifício archângelo maletta numa atitude comovente de protesto contra as intituições familiares. Seus corpos foram cobertos com jornais locais que noticiavam a extinção da previdência social;
A dois minutos do último momento todas as crianças estavam dormindo e sonharam simultaneamente com um dominó formado por toda a população que percorria as autopistas e as avenidas e becos das grandes cidades;
A dois minutos do sinistro as leoas petrificadas da praça da estação rugiram pela primeira vez após séculos de silêncio e tomados por uma fome bestial devoraram os cavalos dos policiais montados que faziam a ronda noturna naquela noite;
A dois minutos do fecho um homem visivelmente transtornado levantou-se em meio a multidão atônita e acusou todas as mães pelos últimos atentados ao pudor. Foi imediatamente imobilizado e levado a uma clínica de psicanálise;
A dois minutos do gran finale os animais do zoológico municipal foram libertados por membros de uma ONG que protestava contra o aumento abusivo das passagens dos coletivos urbanos. Nesse dia foram registradas várias demissões no DETRAN;
A dois minutos do derradeiro fracasso o ribeirão arrudas começou a correr em sentido contrário;
A dois minutos da tragédia soaram juntas dos dez mil automóveis engarrafados na região central dez mil buzinas como trombetas apocalípticas anunciando uma nova crise mundial do petróleo;
A dois minutos de da catástrofe um vírus desconhecido penetrou silenciosamente na memória de todos os computadores. Nesse instante as impressoras iniciaram a impressão de equações matemáticas desconhecidas e misteriosas. Ao final da operação os computadores desligaram-se para sempre;
A dois minutos do blecaute total todos os shopping centers viraram mercados persas;
A dois minutos da hecatombe nuclear a cidade de Ouro Preto afundou e desapareceu completamente do mapa levando consigo para as entranhas da terra todo o seu acervo arquitetônico , a população nativa, os estudante e alguns turístas desavisados. No local foi descoberta uma civilização subterrânea em um estágio de desenvolvimento inacreditável;
A dois minutos do holocausto todos os presos foram libertados e a população civil em pânico refugiou-se nos presídios de segurança máxima;
A dois minutos do resto o metrô transformou-se numa grande serpente mitológica e devorou os trilhos da estação central até a estação lagoinha. Depois cavou um túnel interminável e nunca mais foi vista por olhos humanos;
A dois minutos do eclipse o monolito da praça sete de setembro foi arrancado violentamente por um grupo de guerrilheiros urbanos que, ainda não satisfeitos com a agressão impetrada ao imaginário simbólico da cidade utilizou-se da forma fálica do pirulito para violentar com requintes de crueldade a casta igreja de são josé num ritual orgiástico de profanação dos espaços sagrados. No mesmo momento uma facção dissidente decaptava o cristo redentor fazendo sua cabeça rolar morro abaixo até ser consumida pelas águas na praia de Copacabana;
A dois minutos do último segundo índios de todas as nações indígenas invadiram o senado vestidos de casaca e cartola e comeram cinco senadores e doze deputados num ritual antropofágico de caráter político partidário;
A dois parágrafos do fim deste texto foram encontrados centenas de exemplares de um livro proibido, inédito e desconhecido do poeta Carlos Drummond de Andrade num galpão abandonado da avenida Andradas. Todos os livros foram imediatamente recolhidos e incinerados pelas autoridades competentes antes que gerassem o kaos e o pânico em todo o continente;
A dois minutos dos últimos acontecimento o escritor norte-americano Dan Propper declarou ‘a Folha de São Paulo ter sido copiado e deturpado por poetas mineiros irresponsáveis. A despeito do protexto de seus editores, fez questão de deixar claro que era totalmente favorável a este tipo de iniciativa;
A cento e vinte segundos atrás todos os relógios despertaram sincronicamente causando um atraso irreversível na estrutura temporal do universo e a humanidade finalmente acordou de seu sono profundo e milenar.
Makely Ka
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Dar não é fazer amor!
Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar....
Sem querer apresentar pra mãe...
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado...
Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem
esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.
Mas dar é dar demais e ficar vazio.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar
o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar:
"Que que cê acha amor?".
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.
Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar
Experimente ser amado...
Ele é só um cara!
Ele não é só um cara!
Faz perguntas, faz suas unhas, faz comida, te leva o mundo numa bandeja quando você acorda. Ele não te deixou apodrecendo ali onde você não pudesse incomodar, não não: ele chegou meia hora antes e trouxe flores cor de laranja. Depois ainda te levou para algum lugar cheio de estrelas e pernilongos. E te avisou que quando seus olhos borraram do rímel.
Ele é diferente de tudo o que é errado em seu mundo e em outros mundos. Não te poupou, porque sabe que você é esperta. Você diria que ele salvou sua vida se não soasse tão dramático. E se isso não fosse mentira – a sua vida velha não merecia ser salva e ele te trouxe uma vida nova que inventou só pra você.
Ele não é do tipo que te deixa em um domingo para ver com os amigos o jogo de futebol do seu time, ele prefere ver com você seus programas preferidos na TV. Ele não é só mais um cara na sua vida, e passaria despercebido se não fosse pelo seu chapéu verde musgo, sua camisa listrada e o jeito como segurava o guarda chuvas. Ele não é mais um que vai ficar por alguns dias e depois dizer ‘adeus’, você sabe que ele vai se demorar a ir, e se for vai ser por decisão dos dois, sem choro, sem mágoas. Você sabe que ele poderia ser teu melhor amigo, teu melhor inimigo, tua melhor parte masculina, mas você preferiu que ele fosse apenas o garoto dos seus sonhos, o garoto com quem você pode compartilhar as tristezas e sorrisos, compartilhar a doença e a vida, até as cerejas de natal, mesmo ele detestando cerejas e natal. Ele te trouxe o melhor dos presentes e a fila do pão nunca esteve tão bonita desde então. Ele passaria despercebido se não fosse à maneira como disse ‘amor’ da primeira vez que trocaram olhares.
Ele é do tipo que canta alto e baixo, depende do seu humor. Ele escuta seus lamentos e murmúrios sem dizer uma só palavra. Ele gosta do silêncio e do barulho com cautela. Ele é do tipo romântico, que abre a porta do carro para você descer. Ele é do tipo que te toma pelas mãos e beija suas bochechas tão devagar que chega a dar calafrios. Ele diz às coisas que você precisa ouvir no momento certo, ele não é do tipo que aumenta o tom quando irritado, ele é do tipo que sabe conversar mesmo estando um tanto quanto chateado. Ele tem ciúmes dos seus amigos, mas não a proíbe de sair com eles em uma sexta feira fria onde o que ele mais queria era dormir abraçado. Ele não tem vícios, mas respeita os seus. Ele te abraça forte e diz em tom calmo ‘amor’.
Ele não é só um cara comum, desses que a gente encontra na fila do pão. Ele é do tipo que vai a padaria logo pela manhã e te traz aquele pão de queijo quentinho com suco de laranja e uma flor em um copo de requeijão. Ele não é só um cara qualquer. Ele te coloca no colo quando você começa com as suas crises de asma e ele te faz perder ainda mais a respiração quando te toca as maçãs do rosto com a palma da mão. Ele te aquece os pés no frio e te deixa com mais calor no verão, ele colhe flores para enfeitar o quarto, ele dorme o suficiente para acordar de bom humor e respirar o dia. Ele não é do tipo que se encontra sentado em um bar falando sobre mulheres com os amigos. Ele é educado, nem muito, nem pouco. Ele tem limites, mas sabe ultrapassar os limites e te deixar sem saber o que dizer.
Ele te faz sofrer muito, porque sofrer é importante. Ele não faz planos ou promessas, só surpresas. Te ensinou a gostar de surpresas, a esperar, ele te deixa esperando, não deixa nada muito claro, você voltou a roer unhas, você nunca sabe, mas a verdade é que ele está sempre ali, ou logo adiante.
Ele é diferente. Ele não é só um cara. Ele te ouve como se te entendesse, fala como quem soubesse o que dizer e não diz nada muitas vezes, porque ele entende os silêncios. Ele mente pra não te chatear e não te deixa descobrir. Ele existe. Você sabe que seriam bons amigos, bons parceiros, bons inimigos, mas você prefere ser a garota dele. E que serão importantes na história um do outro para sempre, independentemente de tudo que estiver pra acontecer.
Porque ele não é só um cara. Você não quer mais só um cara. E ele é tudo que você quer hoje.
Eu te amo não diz tudo!
A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.
Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida,
Que zela pela sua felicidade,
Que se preocupa quando as coisas não estão dando certo,
Que se coloca a postos para ouvir suas dúvidas,
E que dá uma sacudida em você quando for preciso.
Ser amado é ver que ele lembra de coisas que você contou dois anos atrás,
É ver como ele fica triste quando você está triste,
E como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d'água.
Sente-se amado aquele que não vê transformada a mágoa em munição na hora da discussão.
Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.
Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é,
Sem inventar um personagem para a relação,
Pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.
Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;
Quem não levanta a voz, mas fala;
Quem não concorda, mas escuta.
Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!
Malemolência
malemolência
{verbete}
Acepções
substantivo feminino
Regionalismo: Brasil. Uso: informal.
1 ausência de disposição; moleza, indisposição
2 má sorte; caiporismo, desdita
3 calma excessiva; falta de empenho; fleuma, pachorra
4 ardil ou desculpa para evitar (algo); subterfúgio, pretexto
5 jogo de atitudes, gestos, jeito de falar ou mover-se que denota qualidades diversas, mas consideradas positivas (como a manha, a malícia, a elegância, a destreza), de alguém; molejo
6 Rubrica: música.
ritmo gingado, característico da interpretação de certos cantores de samba, dançarinos, ou modo característico de portar-se dos antigos malandros; molejo
Etimologia
voc. expressivo, de orig. não fixada; prov. criação da área carioca, na linguagem informal do teatro de revista e de letristas da sua música pop., talvez de manumolência ou manimolência, us. para 'gestos manuais estudadamente lentos (e insinuantes)', a partir de manu- 'mão' e -molência 'mole'; o el. final -molência é constante, mas o el. inicial prende-se à disputa em curso entre: 1) male-/mali- e 2) mane-/mani-, estatisticamente ricas em nosso léxico, 3) manu-, f. motivadora mas demasiado culta e 4) mole-/moli-, com redobro e alternância consonântica: malemolência, malimolência; parece ter prevalecido o el. motivador mane-/mani-/manu- e a preponderância das nasais, cf. manemolência, manimolência, manimonência, manumolência
Sinônimos
malimolência, manemolência, manimolência, manimonência, manumolência, molemolência, molimolência; ver tb. sinonímia de vadiagem
Relacionamentos
- ‘Ah, terminei o namoro… ‘
- ‘Nossa, quanto tempo?’
- ‘Cinco anos… Mas não deu certo… Acabou’
- É não deu…?
Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.
E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.
Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos esta coisa completa.
Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.
Tudo nós não temos.
Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro.
Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que
é uma delícia.
E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona…
Acho que o beijo é importante… E se o beijo bate… Se joga… Se não bate… Mais um Martini, por favor… E vá dar uma volta.
Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.
O outro tem o direito de não te querer.
Não lute, não ligue, não dê pití.
Se a pessoa ta com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não.
Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.
Nada de drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro, recessão de família?
O legal é alguém que está com você por você.
E vice versa.
Não fique com alguém por dó também.
Ou por medo da solidão.
Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.
E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.
Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?
Gostar dói.
Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração.
Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo.
E nem sempre as coisas saem como você quer…
A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.
Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta.
Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.
Na vida e no amor, não temos garantias.
E nem todo sexo bom é para namorar.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.
Nem todo beijo é para romancear.
Nem todo sexo bom é para descartar. Ou se apaixonar. Ou se culpar.
Enfim… Quem disse que ser adulto é fácil?
Arnaldo Jabor
Ficar por ficar
os braços, sorri e dispara: ´eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e
todo mundo é meu também´.
No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos
descompromissados, os adeptos da geração ´tribalista´ se dirigem aos
consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e
reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição.
A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu.
Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso
comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como:
não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc.
Desconhece a delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor.
Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser
cuidado por ele, é telefonar só para dizer bom dia, ter uma boa companhia
para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e
receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter ´alguém para amar´.. Somos livres para optarmos! E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento...
Paixão
Homme
Homossexualidade e outros pecados...
"Minha acuidade visual tem de ser 100% para que eu me aproxime do altar de Deus?", perguntou-lhe o ouvinte |
A Paloma e a Elisa
A PALOMA E A ELISA
Paloma é uma travesti.
É negra.
É moradora de rua.
Não dorme no albergue municipal porque os horários do abrigo impossibilitam sua atividade profissional nas ruas, esquinas e becos da cidade... Além disso, não retorna ao albergue com a intenção de escapar da violência policial, que sob o discurso da manutenção da ordem e da segurança pública persegue e avilta direitos de quem, por razões variadas, não tem endereço fixo... Contam as conversas de quem partilha a vida nas ruas com Paloma que em seu caminho há uma promessa feita por um policial militar “vou lhe bater até furar seu silicone...”
Elisa é mulher.
É branca.
Ninguém sabe de seu paradeiro.
Elisa está nas páginas policiais de todos os jornais do país, algumas vezes de maneira desrespeitosa e tendenciosa. Não se sabe ao certo que tipo de relação ela mantinha com o jogador famoso, sabe-se apenas que várias denúncias contra ele já haviam sido feitas por Elisa. Nelas, a violência física foi a principal queixa. Há, inclusive, o relato de uma tentativa, não consentida, de interrupção de uma gravidez de cinco meses...
Embora nossas experiências pessoais diante da violência nos permitam imaginar os destinos de Paloma e Elisa, não é possível dizer o que virá acontecer a uma e o que de fato aconteceu á outra... De concreto podemos dizer que as duas são vítimas do mesmo modelo machista de sociedade, onde o pensamento patriarcal determina e regula corpos e mentes e determina o direito á vida. Aliás, é inconcebível o modo como a sociedade se organiza em nome de regular o corpo feminino diante do direito de escolha em relação a uma gestação indesejada - apontando o aborto como um crime, sob alegação de que tão logo seja gerado o feto já é uma vida - e a passividade desta mesma sociedade quando o que está em jogo é a vida e a segurança feminina. Há mais vida em uma vida do que em outra? De acordo com o jornal O
Tempo de 11 de julho de 2010, os casos de violência contra mulheres cresceram em 300% no estado de Minas Gerais. No Brasil, segundo dados da Fundação Perseu Abramo, á cada 15 segundos uma mulher é vitima de violência doméstica.
A resposta para quem se pergunta o que a Paloma, uma travesti, tem haver com a Elisa uma mulher, só pode ser dada revisitando as produções acumuladas pelos estudos feministas. Assim, desvelando uma espécie de cadeia conceitual, a primeira observação a se fazer é a de que o desejo do policial em relação à Paloma é uma expressão de homofobia e que esta, tal como as diversas agressões a que foi submetida Elisa antes de desaparecer, têm uma única origem: o machismo e o sexismo. E, ainda seguindo essa “teia conceitual”, é preciso considerar que essas três categorias que designam formas de preconceito de gênero só permanecem atuando em sociedades onde o patriarcalismo ainda é à base do ideário social. Então, interessa dizer que o patriarcalismo se estrutura no entendimento de que as relações no interior de determinado grupamento se desenrolam sob a vigilância centralizadora de uma figura masculina a quem se deve reverência e obediência.
Além disso, é típico das sociedades patriarcais o entendimento de que a esfera privada não faz parte e independe da esfera pública, discurso que foi amplamente combatido pela atuação das feministas da segunda onda, que empunhando a bandeira “o pessoal é político” trouxeram à baila a discussão de que a vida privada também é responsabilidade política de toda sociedade. Desse modo, não mais faz sentido acreditar que em briga de marido e mulher não se mete a colher. Assim como é inadmissível manter-se indiferente diante da ciência de que 70% das mulheres assassinadas já haviam prestado queixa de violência domestica e de que nada foi feito para garantir sua segurança e integridade; é inadmissível ficar indiferente à informação de que 80% dos casos de assassinatos de homossexuais têm autor desconhecido, e que em apenas 20% destes o autor é identificado e somente em 10% é punido na forma da lei.
A indiferença de autoridades de todos os níveis e da sociedade de forma geral só ratifica a defesa de que ser mulher ou de ter a orientação/opção sexual identificada pelo senso comum como próxima à condição feminina é passaporte para ausência do direito à segurança e à dignidade plena. Ao depararmo-nos com os crescentes números de assassinatos de mulheres e homossexuais, especialmente as travestis, o que podemos afirmar é que há uma cumplicidade social em relação a esses crimes como se fossem justificados pela condição sexual. Ou seja, de algum modo, a sociedade ainda entende que cometer qualquer tipo de violência contra homossexuais é na verdade uma punição pelo modo como esses dispõem de sua vida sexual. Do mesmo modo o femicídio ainda é compreendido como um crime menor na medida em que será justificado, em grande parte das vezes, como resposta a um “amor” não correspondido. .. Por incrível e doloroso que pareça esses crimes são na verdade percebidos com certo romantismo idealizado, e aqueles que os cometem não são enquadrados no rol dos criminosos comuns. Assim, Paloma e Elisa têm seus corpos violentados e dispostos com uma conivência tácita da sociedade patriarcal que buscará infinitos meios para desmerecer suas existências. Quando a morte chega para esses sujeitos ainda há quem pergunte “mas o que ela fez?”
Deste modo podemos dizer que o lema da segunda onda feminista continua valendo “o pessoal é político”! É preciso meter a colher nessa briga e buscar direitos básicos para esses grupos. Políticas públicas precisam cada vez mais existir e contribuir para novas formas de relações sociais, aqui o importantíssimo e insubstituível papel da educação. O machismo está de tal modo embrenhado nos meandros da sociedade que quase não se percebe o modo como ele opera de maneira contundente, ininterrupta e cruel. A homofobia nada mais é do que uma forma aprimorada de machismo, e como tal, avilta direitos, regula corpos e extingue vidas. E ação sexista é tão competentemente poderosa que somos capazes de acreditar que quando mulheres ocupam postos que antes se destinavam apenas ao público masculino, que quando paradas LGBT tomam as ruas dos grandes centros, já é a garantia de que vivemos em uma sociedade onde as relações de gênero são igualitárias. Mentira! Do mesmo modo que não vivemos em uma democracia racial não vivemos também uma democracia de gênero. Aliás, democracia é um conceito bastante frágil quando se trata de sociedade brasileira, onde os números da desigualdade, da violência e do não direito são ainda altamente assustadores e desafiadores. Nossa democracia muito se assemelha à democracia clássica, onde mulheres não eram consideradas cidadãs... Ocupar postos e marchar pelas ruas são conquistas e marcadores importantíssimos, porém, não é tudo é não é o bastante.
A Paloma e a Elisa são a esfera privada que se embrenha no público como a ponta de um iceberg. A Paloma e a Elisa são o retrato da desigualdade de gênero e da conivência social diante dela. A Paloma e a Elisa são mulheres, as duas! Se não pela condição biológica, pelo status e a condição social destinada a ambas. A Paloma e a Elisa serão, em pouco tempo, apenas números...
Por elas... Joelma, Monica, Mércia, Eloá, Taís, Daniela,
Maria, Cláudia, Ana, Elaine, Ângela, Rebeca, Ramona, Savana... Pela Paloma e pela Elisa continuemos a marcha até que tod@s sejam livres!
Giane Elisa Sales de Almeida